Cuidado! Spoilers à frente!
La La Land foi um dos filmes vencedores do Oscar do ano passado. Em meio a muitas coisas, como por exemplo o fato de ser um musical, La La Land nos desconcerta. Em geral musicais combinam com algodão doce, meias de seda, cabelos ao vento: uma certa fantasia e romantização da realidade, especialmente dos casais enamorados. Por gerações, a ideia de um par perfeito, da cara metade e principalmente do “foram felizes para sempre!”, não era apenas uma ideia, mas a promessa de eternidade. Uma espécie de rasteira na morte. E hoje? Como é isso? No filme, o par romântico não dá certo no final (desculpe o spoiler).

E o que é dar certo no final? Aqui há pelo menos duas questões para discussão: “dar certo” e “final”. A protagonista encontra o sucesso que tanto almejava construir em sua carreira de artista. Torna-se uma atriz reconhecida por seu talento e uma verdadeira estrela de Hollywood. Sebastian, seu par, também consegue empreender e abrir seu jazz club, um lugar que se torna famoso pela alta qualidade de suas performances musicais. Os dois fizeram suas escolhas, colocando todo seu empenho na concretização de seu próprio sonho profissional, e, justamente porque “deram certo” enquanto estavam juntos, pelo sucesso profissional do outro. Para um olhar superficial, dar certo aqui se restringiu ao campo profissional. Mas se observamos mais profundamente, embora não tenham ficado juntos, cada um foi absolutamente essencial ao sucesso do outro. E não é para isso que nos envolvemos em relacionamentos de amor? Não queremos o melhor para o outro? Que ele atinja seus sonhos e objetivos? Isso não é por acaso “dar certo”?

Mas então chegamos à análise do termo “fim”. Dar certo implica em escolhas conscientes na sensata administração daquela porção perdida do sonho não realizado. O “final” implica no reconhecimento de que tudo termina, a todo o momento, a cada respiração. Não existe um final definitivo do “para sempre”. Quando algo termina, outra coisa começa, instantaneamente. Este parece ser o padrão da vida, essa dança de pequenas mortes e renascimentos encontrados no final de um relacionamento, na troca de um emprego, na passagem para outra fase da vida.

Na verdade, assim como a vida, La La Land fala do imenso rol de possibilidades que estão presentes momento a momento em nossas vidas. A falta de clareza sobre essas possibilidades por vezes nos paralisa, pois pensamos que há, para nossa felicidade idealizada, apenas um caminho possível. Uma única maneira de “dar certo”. Um único final feliz. Não conseguimos ampliar a percepção para as inúmeras portas que se abrem, especialmente quando outras se fecham, num convite encorajador: quer entrar? Muitas vezes, fincamos o pé em um determinado objetivo, sonho, relacionamento, emprego, pensamento….e vamos aos poucos perdendo o movimento, a flexibilidade e enfim, a liberdade.

Por isso, aqui na Humana Mundi, o convite que fazemos é de ampliação do espaço de auto percepção, através da escuta cuidadosa de todos os aspectos que participam da construção de uma realidade: o físico, o mental e o espiritual. Se conseguimos nos escutar melhor, vamos percorrendo a vida com graça, mesmo em meio a finais não esperados. Quando ampliamos a consciência, conseguimos ver as várias possibilidades e os diversos finais felizes que nos são possíveis, a cada momento de nossa existência. Nos tornamos a água que atravessa qualquer obstáculo, fluindo com graça em direção ao grande oceano.

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