Por Maria Cristina Monteiro de Barros, sócio proprietária da Humana Mundi
No livro Uma Arte de Cuidar de Jean Yves Leloup, aprendemos sobre o estilo de cuidado que exerciam os terapeutas de Alexandria. Estes terapeutas viviam na Palestina há mais de 2000 anos atrás e tinham um modo de vida sóbrio, centrado no estudo das escrituras e nos livros da Natureza, do Corpo e do Coração. De pronto, nos chama a atenção a visão desses terapeutas sobre o ser humano: para eles, nós podemos mudar! Somos, por assim dizer, formados por uma parte de aventura e outra de natureza. A aventura corresponde ao novo, àquilo que pode mudar em nós, ao que pode carregar um sentido. A natureza refere-se àquilo que nos é inato.
Para os terapeutas, a aventura humana significa liberdade para se interpretar e dar sentido ao sofrimento, mesmo o inevitável. Então, quem eram os antigos terapeutas?
Um terapeuta era um intérprete, um hermeneuta. Aquele que proferia palavra que não gerava sofrimento, que não adicionava mais dor àquele que sofria. O terapeuta era um cuidador. Os terapeutas de Alexandria cuidavam do ser como a um embrião que se desenvolve dentro do útero materno. E esperavam o Messias interior, ou seja, “o vir a ser”, pois para eles, o homem se desenvolveria continuamente, caminhando em direção ao seu melhor, ao mais profundo de si mesmo.
Os terapeutas de Alexandria tinham uma visão muito integral do ser humano, uma visão transdisciplinar. Era preciso, para cuidar do Ser, acolher a todas as disciplinas sem misturá-las ou opô-las, pois todas se complementam no cuidado à inteireza do outro. Por isso os terapeutas de Alexandria tinham ao lado dos locais de cuidado, locais de estudo, de meditação e de contemplação. Existiam também a casa do luto e a casa dos mistérios.
Dois mil anos depois, aqui na Humana Mundi, nosso espaço clínica, todos os aspectos da natureza humana conversam e podem conviver. Para nós, o terapeuta é um médico, que cuida do corpo e de seu funcionamento do ponto de vista biológico. É também um psicólogo, pois cuida da psique que se manifesta nesse corpo, através da palavra, dos sonhos e do comportamento.
O terapeuta é ainda alguém que cuida daquilo que está além do psiquismo, o centro do silêncio no Ser. E para isso, o terapeuta pode ser alguém que medita ou pratica, de alguma forma, o contato com o silêncio, esse campo numinoso e fértil. E ainda, o terapeuta é aquele que invoca a Presença do ser, falando-lhe ao coração, agindo a partir do coração. E aqui não se trata de algo religioso, mas profundamente humano. Todas essas ações visam o re-ligare à própria fonte da vida. Esse é o principal objetivo de cuidar.
Aqui na Humana Mundi, os antigos e os novos terapeutas se encontram!